Brasil: Ex-diretor do Inst. Nac. de Pesquisas Espaciais exonerado por contestar gov. Bolsonaro sobre dados de desmatamento alerta para conflito de interesses com empresa privada que agora os produzirá
"’Não podemos nos calar’, diz ex-diretor do Inpe sobre censura”, 17 de agosto de 2019
Para um auditório lotado, Ricardo Galvão, ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) narra os bastidores do embate com o governo Bolsonaro sobre os dados do desmatamento da Floresta Amazônica. Desde que o sistema detectou aumento da degradação florestal, a partir de junho, o Inpe virou alvo de ataques do presidente e do ministro de Meio Ambiente, Ricardo Salles...["N]ão podemos ficar calados”, aconselhou à plateia. "Sempre que a ciência for atacada, temos que nos posicionar, independente da posição partidária”...[D]entre as principais falas de Galvão está a crítica ao sistema da tecnologia Planet, representado no Brasil pela empresa Santiago & Cintra, que será contratada pelo governo...["S]alles disse que...aquele trabalho havia sido feito gratuitamente pela Planet. O que nos preocupa muito são esses dados produzidos gratuitamente por uma empresa e apresentados como científicos”, criticou o conflito de interesses...[P]ara Daniel Nepstad, pesquisador norte-americano que trabalha com a Amazônia há 30 anos, a tentativa de Bolsonaro de minar a credibilidade do Inpe ainda ressoa no mundo...["C]ientistas que trabalhavam em instituições governamentais na área de mudanças climáticas também sofreram retaliações”, comentou Nepstad sobre o cenário americano...[O]s riscos para um país são grandes quando a ciência perde a autonomia, pontua José Goldemberg, que já foi ministro da Educação e secretário do Meio Ambiente nos anos 1990. "Ciência é a base de formulação de políticas públicas. Quando se mina a ciência, ficam prejudicadas as decisões do governo”...[A]cioli Olivo, pesquisador do Inpe aposentado que atuou na instituição por 30 anos, lembra que dados do desmatamento já provocaram desconforto em governos anteriores, mas que as questões foram superadas...[A]...situação atual, por outro lado, é mais preocupante. "O Brasil não é um país de ponta em ciência e tecnologia, basta olhar o encolhimento dos orçamentos”...