Brasil: Duas comunidades rurais de Brumadinho afirmam que estão sem água desde 2015, quando a Coca-Cola se instalou em uma cidade vizinha; incl. comentários da empresa
"Como a Coca-Cola acabou com a água de 800 famílias em Minas Gerais", 04 de dezembro de 2024
...“Coca-Cola não mata a sede, nem molha as plantas”, lia-se em um pequeno cartaz pregado na parede de um auditório da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Esta foi uma das dez manifestações exibidas em faixas de protesto durante a audiência pública no dia 10 de setembro para questionar o resultado do termo de compromisso assinado em junho pela Coca-Cola com o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). A sala lotou com moradores de Suzana e Campinho, duas comunidades rurais em Brumadinho, a 55 quilômetros de Belo Horizonte. Ambas estão sem água desde 2015, quando a indústria se instalou em Itabirito, cidade vizinha. A audiência foi convocada pela deputada Beatriz Cerqueira (PT) após constatar que o termo de compromisso não contemplava a principal reivindicação das mais de 800 famílias: que suas nascentes voltem a verter água.
Durante o inquérito civil, o MPMG determinou que a Coca-Cola e a autarquia de abastecimento de água de Itabirito, SAAE, encomendassem estudos de impacto hídrico para verificar se o bombeamento de água para a fábrica interferia na vazão das nascentes que servem às comunidades. Foram nove anos de investigação, em que os relatórios apresentados pela indústria e pela autarquia foram contestados por um geólogo da sociedade civil. Até que, em 2022, um relatório constatou que há, sim, interferência...
Sem envolver a comunidade na discussão dos termos de compromisso, o MPMG fez reuniões com a Coca-Cola, o SAAE de Itabirito e a Prefeitura de Brumadinho. No documento assinado em junho de 2024, o ressarcimento que coube à Coca-Cola foi um poço e o investimento de R$ 800 mil em infraestrutura e projetos socioambientais...
O bombeamento de grande volume do Cauê, feito para abastecer a indústria da Coca-Cola, baixa o nível do aquífero, e o fluxo de água das nascentes no topo da Serra se interrompe...
Com a água faltando, sofrem os humanos e sofrem os bichos...
Em resposta a um pedido de entrevista, a Coca-Cola afirmou que “a planta conta com todas as licenças operacionais e ambientais necessárias para seu funcionamento”, sem especificar quais, e que “a companhia está investindo na implementação de medidas conjuntas para promover benefícios ambientais na região da Serra da Moeda”, sem explicitar que se trata de uma exigência do termo de compromisso que assinou junto do Ministério Público...