Brasil: Organizações cobram BNP Paribas, baseada na lei de devida diligência francesa, pelo apoio a Marfrig, envolvida em graves violações de direitos

Comissão Pastoral da Terra
“Organizações cobram banco francês BNP Paribas pelo seu apoio a Marfrig, envolvida em graves violações de direitos”, 17 de outubro de 2022
Em uma iniciativa inédita para garantir a responsabilização de atores financeiros em relação ao desmatamento ilegal e graves abusos de direitos humanos ligados à indústria brasileira da carne, a Comissão Pastoral da Terra (CPT)...e Notre Affaire à Tous...pela Rainforest Action Network...acabam de notificar o banco francês BNP Paribas por prestar serviços financeiros a frigoríficos, mais especificamente a Marfrig, o segundo maior frigorífico do Brasil…as organizações alegam que Marfrig está envolvida em graves violações, por conta da insuficiência da regulamentação de sua cadeia de suprimentos, tendo como efeito sua colaboração de fato com desmatamento, grilagem de terras indígenas e práticas análogas ao trabalho escravo, em fazendas de gado que abastecem suas unidades de processamento de carne. Por fechar os olhos para tais abusos e continuar ajudando a Marfrig a conseguir bilhões de dólares para se financiar, a notificação afirma que BNP Paribas contribui para essas práticas ilegais e pode incorrer em responsabilidade.
Uma investigação do Centro de Análise de Crimes Climáticos (CCCA), realizada sobre dois frigoríficos operados por Marfrig no período de 2009 a 2020, revela que fazendas que têm fornecido carne a Marfrig seriam responsáveis por mais de 120 mil hectares de desmatamento ilegal na floresta amazônica e no cerrado durante este período. Também foi constatado que Marfrig adquiriu gado, direta e indiretamente, de pecuaristas que criavam animais ilegalmente em território indígena…
Marfrig também adquiriu gado de fazendas envolvidas em práticas análogas à escravidão...De acordo com um relatório do Greenpeace divulgado no ano passado, Marfrig não possui procedimentos eficientes para garantir que pecuaristas envolvidos em desmatamento ou em violações de direitos humanos sejam excluídos de sua cadeia de suprimentos.
Esta é a primeira notificação dirigida a um banco, sob a lei francesa do Dever da Vigilância, para que cumpra com as exigências legais em relação a desmatamento e demais violações de direitos. A lei francesa do Dever de Vigilância exige que as empresas multinacionais que operam na França estabeleçam um plano que "inclua medidas razoáveis de devida vigilância para identificar riscos e prevenir graves violações dos direitos humanos e das liberdades fundamentais, da saúde e da segurança das pessoas e do meio ambiente, resultantes das atividades da empresa e das empresas que ela controla”, na França e no exterior. Esta notificação ao BNP é um forte sinal para todos os agentes financeiros, lembrando-lhes de suas obrigações legais em relação à crise climática e a violações de direitos humanos - e dos riscos legais e reputacionais que correm ao não cumprirem imediatamente com tais obrigações...