Brasil: Crescimento de canais do YouTube com conteúdos misóginos acompanha aumento da violência contra a mulher; empresa não respondeu ao Brasil de Fato
"Crescimento de conteúdos misóginos no YouTube acompanha aumento da violência contra a mulher no Brasil", 13 de dezembro de 2024
...O Observatório da Indústria da Desinformação e Violência de Gênero nas Plataformas Digitais, criado por uma parceria entre o NetLab-UFRJ e o Ministério das Mulheres, divulgou...uma pesquisa inédita que sobre discursos misóginos em canais do YouTube no Brasil...
O relatório Aprenda a evitar 'este tipo’'de mulher: estratégias discursivas e monetização da misoginia no YouTube analisou 76,3 mil vídeos de uma rede de influenciadores e comunidades digitais da chamada "machosfera", que chegou ao número de 137 canais com conteúdos explicitamente misógino, com uma média de 152 mil inscritos em cada um deles...
Segundo o relatório, 88% dos vídeos foram publicados nos últimos três anos, demonstrando uma tendência de crescimento desse tipo de conteúdo, que são direcionados, sobretudo, às militantes feministas, mães solteiras e mulheres com mais de 30 anos. O tema "desprezo às mulheres e insurgência masculina" foi o mais recorrente, presente em 42% dos títulos dos vídeos analisados...
Além de propagar o ódio às mulheres e sua subjugação à superioridade masculina, o estudo identificou que 80% dos canais misóginos utilizam estratégias de monetização "como anúncios, Super Chat, doações e vendas de produtos". De acordo com as informações obtidas 52% dos canais misóginos possuem pelo menos um vídeo com anúncio, e oito deles somaram R$ 68 mil em arrecadações de 257 transmissões em Super Chat. Outros 28% dos canais disponibilizam links para plataformas de financiamento coletivo.
Ainda segundo o relatório, há anúncios de consultoria individuais para o "desenvolvimento pessoal masculino" em que alguns desses influenciadores cobram até R$ 1 mil por esse serviço...
Embora o relatório não correlacione diretamente a circulação dos discursos misóginos e o aumento da violência contra as mulheres, o Ministério da Mulher destaca que nos últimos três anos se observa um crescimento da quantidade de vídeos com conteúdo misógino e também um aumento de quase 10% dos registros de mortes em função de gênero. Os feminicídios saltaram de 1.347 em 2021 para 1.463 em 2024...
O Supremo Tribunal Federal deve retomar na próxima semana o julgamento sobre a constitucionalidade do artigo 19 do Marco Civil da Internet de 2014, que trata da responsabilidade das plataformas digitais por conteúdos publicados por seus usuários...
A empresa Google, proprietária da plataforma YouTube, não respondeu aos questionamentos da reportagem. O espaço segue aberto para manifestações...