Brasil: Investigação mostra que empresa chinesa recebe para garantir soja sustentável no país, mas não consegue rastrear fornecedores que desmatam
“Gigante chinesa recebe bilhões para garantir soja sustentável no Brasil, mas compra de desmatadores”, 20 de Junho de 2023
...a multinacional chinesa Cofco, uma das principais compradoras da soja brasileira, anunciou a assinatura do maior contrato de empréstimo vinculado a critérios de sustentabilidade do mundo recebido por uma empresa de commodities: 2,3 bilhões de dólares...
O Brasil tem um papel central nessa conquista: os 19 bancos responsáveis pelo financiamento bilionário, entre eles o espanhol Banco Bilbao Vizcaya Argentaria (BBVA), que coordena o negócio, só aceitaram oferecer capital a juros baixos porque a Cofco se comprometeu a garantir a rastreabilidade da soja adquirida por fornecedores diretos no país, além de atingir outras metas de sustentabilidade em suas operações.
Mas uma investigação da Repórter Brasil, em parceria com a Rainforest Investigations Network, do Pulitzer Center, mostra que no mesmo período em que desfrutava do crédito verde a juros reduzidos, a trading estava recebendo em seus armazéns soja produzida em um complexo agrícola com áreas de desmate recente.
As compras foram realizadas com intermediação da Nutrade Comercial Exportadora, subsidiária da multinacional suíça Syngenta. Ou seja, a aquisição dos grãos pela companhia chinesa se deu de forma indireta – e por isso não descumpre a meta do empréstimo bilionário, de rastreamento de fornecedores diretos. Mas mostra que a Cofco ainda tem um longo caminho para alcançar a aquisição de soja livre de desmatamento.
“Talvez não seja diretamente uma violação aos termos do contrato, mas é preocupante porque os bancos emprestaram a uma empresa que promete melhorar o rastreamento e, no entanto, não o faz ou não faz eficientemente bem. Se eu fosse um banco, estaria preocupado”, avalia Merel Van der Mark, coordenadora da Coalizão Florestas & Finanças...
Inicialmente, a Cofco negou qualquer relação comercial com as fazendas de soja mapeadas por esta investigação. Depois de ter acesso às notas fiscais e contratos obtidos pela reportagem, a trading mudou o discurso: “Atualmente, estamos trabalhando para aumentar a rastreabilidade das compras indiretas, o que nos levará a reforçar nossos controles e monitoramento de risco para esta parte da cadeia de fornecimento” e destacou que os compromissos assumidos nos empréstimos vinculados à critérios de sustentabilidade dizem respeito apenas aos seus fornecedores diretos.
Já a Nutrade afirmou que, no momento da compra, todos os fornecedores cumpriam as regulamentações ambientais e não se encontravam na lista de embargos do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Leia as respostas na íntegra aqui...